Cia de Dança Êxtase realiza intercâmbio cultural com a tradicional Festa da Ramada na Comunidade Quilombola Boa Vista do Rio Cuminã

Cia de Dança Êxtase realiza intercâmbio cultural na Comunidade Quilombola Boa Vista do Rio Cuminã e vivencia a Festa da Ramada

Nos dias 11 e 12 de abril de 2025, a Cia de Dança Êxtase de Oriximiná protagonizou uma imersão única na Festa da Ramada, uma das mais importantes expressões culturais e religiosas das comunidades ribeirinhas do município. O grupo embarcou em uma experiência transformadora ao realizar um intercâmbio cultural na Comunidade Quilombola Boa Vista do Rio Cuminã, onde teve a oportunidade de vivenciar, de perto, os saberes, os ritos e a força da tradição mantida por gerações.

A saída aconteceu na sexta-feira, dia 11, no período da noite. Após horas de navegação pelos rios da região, os integrantes chegaram à comunidade no "frio da madrugada" do dia 12, e foram surpreendidos com uma alvorada de fogos, que emocionou e marcou o início de uma acolhida inesquecível. Logo em seguida, foi servido um farto café da manhã regional, com iguarias preparadas pelas famílias locais: beiju peteca recheado com castanha-do-Pará, tapioquinhas, mandioca cozida, chá de ervas e uma variedade de quitutes servidos à cuia. A receptividade calorosa tocou profundamente os participantes, que descreveram o momento como “inesquecível”.

Durante o dia, o grupo realizou visitas às casas dos moradores, conhecendo suas moradias, modos de vida e participando do preparo de elementos essenciais para o ritual da festa. Destaque para a tradicional manicuera e para a caiçuma, uma bebida fermentada, típica das festividades e rituais locais. Cada etapa do preparo era acompanhada com explicações, histórias e partilhas, criando um verdadeiro elo entre visitantes e comunitários.

A vivência seguiu com a participação dos integrantes da Cia Êxtase na busca do mastro na mata, um dos momentos mais simbólicos da Festa da Ramada. Com orientação dos próprios moradores, os integrantes acompanharam desde a escolha da árvore até a ornamentação do mastro com plantas, frutas e objetos que representam a fartura e a espiritualidade da comunidade.

A programação também incluiu o torneio de futebol comunitário, momento de lazer e confraternização entre os moradores da Boa Vista e visitantes de comunidades vizinhas. A Cia também aproveitou a viagem para realizar gravações de vídeos e vinhetas promocionais, que farão parte da narrativa do espetáculo junino de 2025, cujo tema abordará exatamente essa manifestação de fé e cultura.

Ao entardecer, um dos momentos mais marcantes: a chegada da procissão fluvial com os foliões de Nossa Senhora Aparecida, padroeira da comunidade, acompanhada dos cânticos e rituais do Aiué, manifestação tradicional da Comunidade São Benedito do Jauarí. A cena emocionou o grupo, que pôde vivenciar a espiritualidade e o simbolismo de uma festa que une devoção, identidade e pertencimento.

"o ritual profano"

No cair da noite, deu-se início ao ritual profano — a Festa da Ramada em si, no barracão decorado com ramas, fibras de palha e iluminado à luz de lamparinas. Um ambiente mágico, que mistura o passado e o presente da cultura quilombola, onde as danças, os cânticos e os rituais ganham vida ao som dos tambores e das vozes ancestrais. A Cia Êxtase participou ativamente das danças, dos ritos e das celebrações, experimentando a cultura não como espetáculo, mas como parte viva dela.

A troca de conhecimentos, o fomento à cultura local e a circulação entre territórios e manifestações tradicionais são pilares que movem a atuação da Associação Cultural, Artística e Social Cia Êxtase de Oriximiná – ACASCEO no qual o Projeto Junino é desenvolvido. E essa viagem reforça ainda mais o compromisso do grupo em representar com verdade, respeito e profundidade as histórias que ecoam nos terreiros, nos barracões e nos corações das comunidades quilombolas do município.

Agradecemos imensamente à Comunidade Boa Vista do Rio Cuminã por nos receber de braços abertos, compartilhar seus saberes e acreditar que a nossa arte é também uma forma de eternizar suas tradições. Levamos conosco não apenas memórias, mas responsabilidades: a de honrar, preservar e difundir essa cultura com sensibilidade, beleza e verdade.